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Cirurgia plástica atrai estrangeiros ao país

Publicado em 26/12/2008

Um novo tipo de "turismo" tem atraído estrangeiras ao Brasil: o da cirurgia plástica. Movidas por preços mais baixos dos que os praticados no exterior e pela boa reputação dos médicos brasileiros, elas têm aproveitado as férias de julho e agosto para visitarem o Brasil e voltar aos seus países com os seios mais volumosos e os corpos livres da gordura localizada.

Em algumas clínicas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belo Horizonte (MG) e de Fortaleza (CE), as estrangeiras, em conjunto com mulheres brasileiras que vivem no exterior, representam de 15% a 20% da clientela. A clínica de Ivo Pitanguy, no Rio, é um caso a parte. No mês
passado, 50% da demanda foi de estrangeiros.

De olho nesse mercado, cirurgiões criaram pacotes especiais. Por preços que vão de US$ 5.000 a US$ 8.000, oferecem motorista e enfermeiras bilíngues, apart-hotel e aluguel de celular.

Em geral, o primeiro contato com os cirurgiões é por e-mail. Também é pela internet que os pacientes enviam fotos, fazem as entrevistas iniciais e mandam os exames exigidos no pré-operatório. A maioria chega um dia antes da cirurgia e parte após a retirada dos pontos, uma semana depois.

É o caso da executiva americana Kathy Kivet, 55, que voltou no final de julho para Nova York com os lábios mais carnudos e sem as gordurinhas localizadas na barriga e no quadril. É a segunda vez que Kivet vem ao Brasil fazer plástica. No ano passado, fez uma cirurgia de rejuvenescimento na face e outra de redução do abdome. Ela não revela o quanto pagou, mas garante que foi a metade do que pagaria nos EUA.

No Hospital da Plástica, no Rio, os estrangeiros representam 15% do total de atendimentos -250 cirurgias por mês, de acordo com o cirurgião plástico Farid Kakme, 60. Ele afirma que em julho foram feitas 30 cirurgias plásticas em estrangeiros e, neste mês, estão agendadas outras 25. Neste ano, houve um aumento de 40% na procura de estrangeiros em relação a 2002, segundo Kakme.

De acordo com os médicos, a maioria da clientela estrangeira é mulher (80%), quer aumentar ou erguer os seios e vem da América Latina, EUA (Miami e Nova York) e Europa (especialmente Espanha, Itália, França e Suíça).

A italiana Chiara Samari, 26, apresentadora de TV em Milão, é um exemplo. Ela havia feito um implante de silicone no seu país, mas não gostou do resultado. Aproveitou as férias para conhecer o Brasil e "retocar" o peito.

Ela e a amiga Susy, estilista, vieram ao país a convite do cirurgião brasileiro Adelson Alexandrino, que vive há 14 anos em Milão. Duas vezes por ano, ele retorna ao Brasil para operar pacientes estrangeiras. "São mulheres que não querem que as amigas saibam que fizeram plástica.

Quando aparecem com os seios maiores, dizem que foi efeito de exercícios ou de hormônios", afirma.

Na clínica de Ivo Pitanguy, em razão do alto índice de clientela estrangeira, as secretárias falam no mínimo cinco idiomas, segundo a diretora Gisela Pitanguy, filha do cirurgião.

"Eles [os estrangeiros] não estão acostumados com paparicos e se sentem muito acolhidos com o tratamento VIP no Brasil", afirma o cirurgião plástico Carlos Eduardo Leão, de Belo Horizonte (MG).

Além de colocar à disposição dos clientes estrangeiros secretária e motorista bilíngue, a clínica dele cuida da reserva do hotel e faz contato com agências de turismo caso o paciente queira, antes da cirurgia, conhecer as cidades históricas de Minas. O cirurgião plástico paulista Anísio Figueiredo Filho, 54, oferece às pacientes motorista, habilitação de celular e serviço de home care. Ele diz que costuma visitar as pacientes, após a cirurgia. "Isso dá segurança."

Sem vantagens

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luiz Carlos Garcia, é contra a vinculação da cirurgia plástica a qualquer tipo de pacote promocional ou que inclua outros itens que não a própria intervenção cirúrgica.

Para ele, esse tipo de promoção contraria o código de ética médico. Para Maria Luiza Machado, diretora da regional paulista do Conselho Regional de Medicina, a prática pode caracterizar concorrência desleal, especialmente se divulgada como publicidade.

Fonte: Folha S.Paulo
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