Matéria

Geral

Prós e contras da cirurgia plástica

Publicado em 18/05/2009

Recentemente, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Tariki, esteve em Florianópolis para participar da 25ª Jornada Sul-brasileira de Cirurgia Plástica, evento que reuniu 300 profissionais. Durante sua estada na Capital, ele conversou com Donna DC sobre a cultura de valorização da estética, sobre as empresas que financiam as cirurgias e, também, sobre os cuidados que uma pessoa deve tomar antes de escolher seu médico.

Donna DC – Em Santa Catarina, 122 médicos são filiados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. No Brasil, são 4,6 mil. Esse é o número total de médicos que realizam cirurgia plástica no país?

José Tariki – Fora da Sociedade, nós não temos controle do número de médicos que realizam as cirurgias. Isso porque houve uma intrusão tão grande de outras especialidades que não temos como ter esse número.

Donna DC – O exercício de cirurgias plásticas por médicos não especialistas não seria prejudicial aos pacientes?

Tariki – Na verdade, a lei brasileira não limita o médico a exercer qualquer especialidade. Desde que ele seja médico, ele pode exercer qualquer especialidade. A pessoa pode fazer cirurgia plástica, mas não pode se intitular cirurgião plástico porque ele não tem o título. Para ser cirurgião plástico existe um critério que é aprovado tanto pelo Conselho Federal de Medicina quanto pela Associação Médica Brasileira. O importante, que a gente procura informar a população, é que o paciente saiba escolher o profissional. Antes da fazer uma cirurgia plástica, é importante se informar qual a formação que o médico tem. Não só isso é suficiente, é preciso buscar referências de pacientes que foram tratados por esse médico, saber qual é o conceito dele no meio médico e em qual local ele faz as cirurgias. Tudo isso é importante.

Donna DC – Como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica vê o fato de a lei brasileira não exigir o título de especialista para um médico exercer uma especialidade?

Tariki – Estamos trabalhando no Senado para que se faça uma revisão nessa lei, porque para algumas especialidades há a necessidade de formação para exercê-la. Aparentemente, a cirurgia plástica parece uma especialidade banal, mas não é. Das especialidades médicas, a cirurgia plástica, a cirurgia cardíaca e a neurocirurgia são especialidades de formação de cinco anos. Estamos trabalhando para que seja feita essa revisão.

Donna DC – A Sociedade tem uma posição contrária em relação ao pagamento parcelado de cirurgias plásticas. Por quê?

Tariki – Não é a Sociedade. Existe um Código de Ética Médica. A pessoa recebe o título de médico e tem que se registrar no Conselho Regional de Medicina. A partir do momento que ele começa a exercer a medicina, quem fiscaliza a atividade do médico são os conselhos regionais de medicina. Se ele cometer algumas infrações médicas, ele pode chegar à pena até de cassação do exercício médico, independente de ele ter tido o título de médico, ele não pode continuar exercendo.

Donna DC – Quais as atitudes que a Sociedade tomou contra isso?

Tariki – A Sociedade tem feito o seguinte: todos os membros que têm vínculo com essas empresas que a gente tem notícia, a gente envia notificação para esse médico dizendo que ele está trabalhando de maneira ilegal, ferindo os princípios do Código de Ética Médica. Nós não temos capacidade de interferir nas empresas. Nós podemos interferir no trabalho do médico. Então esse médico também é denunciado para o Conselho Regional de Medicina. Agora, nenhum dos Conselhos Regionais de Medicina nem a Sociedade tem alguma forma de intervir nas firmas intermediadoras. Então, lá em São Paulo, o Ministério Público tomou uma atitude de investigar se essas financeiras estavam legalmente registradas no sistema financeiro, seguindo as regras.

Donna DC – Quando vocês adotaram essas medidas de notificar o médico e denunciá-lo para o Conselho?

Tariki – Adotamos quando essa atividade (de financiamento através de empresas) começou, há uns três ou quatro anos. Em algumas regiões do país, ela não está tão desenvolvida ainda.

Donna DC – Quais regiões?

Tariki – Por exemplo, em São Paulo, há uma concentração. Teve uma época que chegou a ter quase quarenta e poucas empresas. Hoje, está na faixa de 15 empresas. (Em Santa Catarina, segundo o médico Osvaldo João Pereira Filho, presidente da regional catarinense da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, seriam três ou quatro empresas.)

Donna DC – No ano passado, quantas notificações foram feitas no país?

Tariki – Cerca de 60 ou 70. (No Estado, nos últimos cinco anos, três médicos sofreram punições por estarem ligado a essas empresas. Outros três estão sendo investigados, segundo dados de Pereira Filho.)

Donna DC – A sociedade brasileira valoriza a estética.

Tariki – (interrompendo) Não é que ela dá valor a estética. Nós temos que considerar que a cirurgia plástica, como especialidade, tem uma atuação tanto na cirurgia reparadora quanto na cirurgia estética. Então, na verdade, a nossa especialidade não é dividida em estética e reparadora. A gente tem a formação completa. Tanto que na nossa pesquisa, hoje, a cirurgia estética compreende 61% das cirurgias realizadas e a reparadora, 39%. Mostrando que nós somos capacitados para trabalhar nas duas áreas, para não dividir a cirurgia plástica.

Donna DC – Como o senhor vê esse fato de tantas pessoas se submeterem a um processo cirúrgico que envolve riscos.

Tariki – A pessoa que bate no consultório médico e pede para se operar tem uma necessidade.

Donna DC – É normal que 60% das pessoas que se submetem a uma cirurgia plástica sejam motivadas por razões estéticas?

Tariki – É normal. Nossa especialidade é médica, não estamos fazendo algo que não seja considerado médico. Se uma pessoa tem alguma alteração psicológica, ela vai ao psiquiatra. Agora, se ela tiver uma deformidade no corpo, que ela acha que está fora dos padrões, e ela tem uma alteração psicológica, você acha que o psiquiatra vai resolver? Se tiver uma mama murcha, caída, como ela vai resolver? Mas tem um critério médico. Uma pessoa que não tem uma deformidade, que o médico acha que não tem indicação, o médico não indica a cirurgia.

Donna DC – A posição da Sociedade...

Tariki – (interrompendo) Não da Sociedade, qualquer médico, independente da Sociedade, se o paciente pede uma coisa que do ponto de vista médico não tem indicação, ele tem obrigação de não fazer o procedimento cirúrgico. Então não é a pessoa banal que vai procurar o procedimento. Você pega uma menina de 18 anos que tem a mama lisa, ela põe o biquíni e não enche nada, você acha que ela pode ficar numa praia aqui de Santa Catarina tranquilamente? A gente respeita quem não precisa, mas quem precisa, você não pode condenar. (...) O que acontece é que o Brasil é um país tropical, as pessoas expõem o corpo. Muitas mulheres não vão de maiô à praia, elas tentam colocar um biquíni, que é o padrão. Se ela tem um abdome com muita gordura, ela olha o padrão e fala "eu tenho muita gordura na barriga". O que ela vai fazer? Exercício físico. Então tem essa cultura de cultuar o corpo dentro dos padrões saudáveis e do ponto de vista estético e cultural de cada país. Por exemplo, você vai pegar uma mulher no Canadá, que nunca mostra o corpo, ela não está preocupada. Tanto que se observa o seguinte: na evolução das técnicas de cirurgia no Brasil, forçou-se muito a esconder as cicatrizes o máximo possível devido ao biquíni.

Donna DC – Qual a real necessidade da cirurgia plástica?

Tariki – Cada pessoa tem sua imagem corporal. Tem gente que pode ter um nariz enorme e não faz nenhuma questão de operar. Se ela não manifestar vontade (de operar) porque, do ponto de vista psicológico, nada incomoda ela, não tem que fazer nada. Se essa pessoa, por algum motivo, no núcleo social dela, no núcleo familiar dela, tem alguma insatisfação e, dentro dos padrões vigentes, ela acha que tem uma mama que não dá nem para botar um biquíni, (...) ela procura um médico. O médico consciente, se achar que realmente ela tem uma alteração dentro do padrão estético que causa um problema de insatisfação psicológica, fala as vantagens e as desvantagens de se fazer uma cirurgia, quais serão os riscos, e ela faz a opção para operar. Se ela tem a expectativa real do benefício que essa cirurgia poderia trazer independente do número de cicatrizes e da localização delas, ela faz um balanço e fala "entre eu ficar dessa forma (e correr os riscos naturais) e atingir meus objetivos através da cirurgia, eu faço a cirurgia". Então, esse critério da escolha é mais do paciente que vem ao consultório. A gente, como médico, avalia se as técnicas que existem são benéficas para a paciente ou não e demonstra quais seriam os benefícios e eventuais complicações.

Donna DC – E a pecha que existe sobre cirurgia plástica ser banal?

Tariki – Muita gente julga que a cirurgia plástica é banal. Não é assim. Dentro do sistema de definição da Organização Mundial de Saúde para uma pessoa saudável, ela tem que estar física, psíquica e socialmente saudável. Então se a gente identificar que uma pessoa tem uma insatisfação psicológica que não é compatível com o que ela tem no corpo, a gente vai dizer "não, não justifica tua insatisfação". Essa nuance vai muito do médico identificar o grau de insatisfação e o grau de alteração física que ela tem e qual a proposta cirúrgica, se realmente vai resolver o problema psicológico dela. Porque tem gente que anda com a mama grande e não está nem incomodado, essa paciente é saudável. Para ela, não é um problema. Agora uma paciente que tem a mama grande e ela tem vergonha na academia, ela não vai à praia, ela restringe à família, como é que vamos resolver esse problema? O psiquiatra não vai resolver isso só, porque essa alteração física é um fato presente, é objetivo, não é discutível. Então, acaba se fazendo a cirurgia por causa disso.

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2510315.xml&template=3898.dwt&edition=12325§ion=1350
Veja mais matérias de Geral