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Erro médico

Publicado em 23/12/2008

Cerca de 97% dos médicos que respondem a processos ético-profissionais no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos não são cirurgiões plásticos. A lipoaspiração e os implantes de silicone são os procedimentos mais freqüentes nos processos que envolvem médicos não-especialistas. Em levantamento inédito divulgado nesta segunda-feira, o Cremesp analisou processos que tramitam no órgão de janeiro de 2001 a julho de 2008 e que envolvem 289 médicos. Em sete anos, 140 médicos foram condenados, sendo que nove deles tiveram o registro cassado.

Entre os médicos processados, figuram apenas seis cirurgiões plásticos (2,1% do total) que é a especialidade mais habilitada para a realização de cirurgias plásticas e apenas um dermatologista (0,3% do total), que também pode executar procedimentos estéticos. Ainda segundo o Cremesp, 139 dos processados não possuem títulos de especialista em nenhuma área.

"Em sete anos, 140 médicos foram condenados, sendo que nove deles tiveram o registro cassado"

Entre os médicos processados, 38% são reincidentes e respondem a mais de um processo ético-profissional. Há o caso de um único médico que tem 16 processos éticos, segundo o Cremesp. No universo de médicos processados, 59 (20,4%) são mulheres e 230 ( 79,6%) são homens. A maioria (265 ou 91,7%) tem mais de 15 anos de formado. Apenas 10 médicos processados têm menos de dez anos de profissão. Mais de 70% dos médicos julgados foram condenados e nove tiveram o registro cassado. Entre os médicos processados com título de especialista, os que mais aparecem são os ginecologistas, os cirurgiões gerais e os ortopedistas.


O título de especialista não é obrigatório por lei para o exercício da Medicina, segundo o Cremesp. Ele pode ser obtido após a conclusão de Residência Médica reconhecida pelo MEC ou através de concurso de título de uma sociedade de especialidade médica oficialmente reconhecida. Mas, diz o Cremesp, o direito legal de atuar sem título de especialista não exime de culpa o profissional que pratica atos médicos para os quais não está habilitado do ponto de vista técnico e científico. Os médicos podem ser processados no Conselho caso exerçam especialidades para as quais não tenham formação e habilidade. Segundo o Cremesp, não existe apenas a especialização em medicina estética.

A maioria dos empregadores (SUS, planos de saúde e hospitais) exige dos médicos a comprovação da qualificação técnica e científica necessária para a prática de atos profissionais especializados, diz o Cremesp. Mas no caso da cirurgia plástica e dos procedimentos estéticos, em que os serviços médicos são contratados diretamente pelas pessoas, o próprio paciente precisa se informar dos riscos de fazer o tratamento com um profissional não qualificado. Um caminho é buscar informações no próprio Cremesp.

"Entre os médicos processados, 38% são reincidentes e respondem a mais de um processo ético-profissional. Há o caso de um único médico que tem 16 processos éticos"

A publicidade médica irregular é o tipo de infração mais encontrada nos processos analisados pelo Cremesp nas áreas de plástica e procedimentos estéticos, com 66,87% de menções. Isso inclui promoção de médicos em revistas e programas de televisão, exposição de imagens de pacientes - o famoso antes e depois -divulgação de técnicas não reconhecidas e de procedimentos sem comprovação científica. Fazer promoções em quiosques em shoppings, consórcios e crediário para realização de cirurgias plásticas também é irregular, diz o Cremesp.

O segundo tipo de infração, que figura em 28,39% dos processos, é a suposta má prática (negligência, imperícia ou imprudência), diz o Cremesp. São casos de erro de diagnóstico, métodos inadequados de tratamento, má assistência no período pós-operatório, prescrição errada de medicamentos, complicações anestésicas, erro em cirurgias, ou alta precoce. Algumas das denúncias estão relacionadas a resultado insatisfatório de cirurgias plásticas, mas também a prejuízos à saúde do paciente e até mesmo a danos estéticos irreversíveis. Em duas das denúncias que geraram processos éticos no Cremesp as pacientes morreram.

Fonte:
http://oglobo.globo.com
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