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Aparências enganam, e muito bem!

Publicado em 02/02/2009

Há muito, a cirurgia plástica deixou de ser somente um recurso de vaidade feminino; também é de marketing político. O primeiro homem público que se submeteu a um bisturi foi o agora governador de São Paulo, José Serra, no começo dos anos 90, quando tinha a expectativa de suceder Fernando Henrique Cardoso. Um marqueteiro o aconselhou a retirar o excesso de pele debaixo dos olhos, que lhe dava um aspecto de vampiro. Deu certo, mas quase 10 anos depois, José Serra está precisando procurar o cirurgião plástico para uma recauchutagem, porque o problema voltou, justo quando está novamente para entrar em uma nova corrida presidencial.

Segundo o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, a percepção de poder está muito ligada à imagem pessoal. "O cardeal Richelieu, para combater as rugas implacáveis, puxava os cabelos para trás para que a pele ficasse mais esticada, e assim ele se apresentasse com uma imagem melhor", lembra o médico. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS) são as mais novas celebridades políticas a entrar nessa lista, na qual já estão José Dirceu, que implantou alguns fios de cabelo; o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro; e a primeira-dama, Marisa da Silva, que aplica botox periodicamente.

O Brasil é o segundo país que mais faz plástica no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Nosso país realizou, em 2006, 700 mil intervenções; 15% em adolescentes entre 14 e 16 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Há dez anos, esse índice ficava em torno de 5%. As estatísticas apontam ainda que, do total dessas cirurgias, 70% eram em mulheres, e 60% dos procedimentos eram estéticos.

Na lista dos procedimentos mais procurados por elas estão rinoplastia (plástica de nariz), a diminuição das mamas, o implante de próteses de silicone, a lipoaspiração e a correção de orelhas de abano. Já entre os homens, a correção do volume das mamas é a cirurgia mais procurada. "Não há uma idade mínima para a realização de cirurgias plásticas", esclarece o presidente da regional paranaense da SBCP, Manoel Augusto Cavalcanti, alertando que, para se submeter ao procedimento, o paciente deve ser saudável e fazer todos os exames pré e pós-operatórios indicados pelo especialista.

O Brasil, hoje, está na vanguarda desse ramo da medicina, com níveis de qualidade entre os mais avançados do mundo. As novas descobertas tecnológicas permitem que as cicatrizes sejam menores e que se formem mais rapidamente, sem deixar consequências indesejadas, como os quelóides. Além disso, o período de recuperação, que antes era de meses a fio, atualmente é de apenas alguns dias, dependendo da intensidade da intervenção. Um resultado satisfatório, porém, dependerá da cicatrização, da reação da pele aos fios utilizados e da técnica escolhida pelo cirurgião.

A exemplo de Dilma, o período de férias é amplamente procurado para a realização das cirurgias, devido à necessidade de um pós-operatório bem observado e de um tempo para repouso. Em janeiro de 2009, houve um aumento de 40% no número de plásticas realizadas, segundo Pedro Pita, diretor da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em Pernambuco. O médico avisa que é preciso ter cuidado na escolha do médico, que deve ser um profissional credenciado.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) alertam que a medicina estética não existe como especialidade. Existem e são reconhecidas como especialidades médicas a dermatologia e a cirurgia plástica. "O especialista de verdade teve formação completa na residência, passou por UTI, sabe ver se o paciente que vai fazer uma lipoaspiração tem uma hérnia que precisa ser corrigida. O médico que cursa uma pós-graduação de dois anos tem uma formação segmentada e deficiente", diz o presidente da SBCP, José Tariki. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy reafirma que "não há nada de errado com cirurgias estéticas; o errado é você se dizer especialista em estética".

O objetivo da cirurgia plástica é reconstituir uma parte do corpo por razões reparadoras de defeitos congênitos, como em mulheres que têm os pequenos lábios vaginais muito grandes; ou estéticas, melhorando a aparência, como no caso dos políticos da vez. Embora classificada como futilidade por muitos, ela proporciona profundas mudanças funcionais e psicológicas. A melhora do relacionamento com outras pessoas é uma das consequências comprovadas pelo pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Walter Poltronieri. Os resultados da pesquisa mostram que o paciente, ao sair da sala de cirurgia, gosta mais de se olhar no espelho, liberando endorfina, o hormônio da felicidade.

Para Ivo Pitanguy, a autoridade não advém da beleza. Muitos outros atributos entram na fórmula convencionalmente chamada de "poder". O fato é que ter uma boa aparência ajuda, e muito, na garantia de votos e credibilidade, e essa tem sido a receita dos marqueteiros para conseguir a aprovação popular de seus candidatos. A velha hipocrisia de que ser bonito "por dentro" é o que importa não engana mais ninguém, comprova o especialista em endocrinologia e metabologia, dr. Antônio Carlos Nascimento. Que o diga o presidente Lula...

Fonte: http://www.brasiliaemdia.com.br/2009/1/29/Pagina6143.htm
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